segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O quarto da minha avó

No quarto da minha avó havia este quadro na parede, em cima da cama. Quando eu era pequena tinha medo dele, é muito sombrio! Mas habituei-me à sua presença. O quarto da minha avó foi um lugar incrível onde quase tudo acontecia. Em primeiro lugar foi o espaço que acolheu a união dos meus avós e futuramente viu nascer algumas das minhas tias. Mais tarde tornou-se lugar de brincadeira: jogávamos no computador do meu primo, fazíamos caretas no espelho exterior do guarda-vestidos, brincávamos às escondidas. Nesse espelho acompanhei as minhas mudanças da adolescência.Também foi palco de fotografias em nascimentos, baptizados, casamentos da família. Acolheu algumas conversas secretas, dessas que não queremos que mais ninguém ouça! Nele, o meu avô ouvia o futebol no seu rádio a pilhas e acordava à noite de muitos pesadelos que o deixavam a cismar todo o dia. Era para a janela do quarto da minha avó que íamos ansiosamente à espera de vir a cruz na Páscoa, ou nos fins de semana de bom tempo aquela janela era uma porta para o mundo! Todos queriam ir e às vezes tínhamos que esperar a vez! eheheh Era também lá que eu e o meu irmão mais novo víamos os desenhos. O que eu mais gostava no quarto da minha avó quando era pequena, eram as caixinhas de bijuteria que ela tinha. Enrolava-me toda com os fios, punha os brincos e as pulseiras e ela ficava chateada com isso, não fosse eu perder alguma coisa, pois ela sempre andou (e ainda hoje anda) impecavelmente combinada! Foi também nas janelas daquele quarto que eu mostrei muitas coisas aos meu primos quando eram bebés. Brincámos com as cortinas, com a cama, com as almofadas. Foi lá que o meu primo tocou os primeiros acordes na viola. Ainda me lembro que nesse quarto estive com o meu avô onde ele me contou como foi a história de união dele com a minha avó e como ele estava nervoso quando foi pedi-la em namoro! Foi nesse quarto que se escolheu a roupa de funeral do meu avô... Depois a minha avó mudou-se... Depois disso, esse quarto foi abrigo de duas cadelinhas de rua. A associação não tinha onde as pôr e eu falei com a minha avó, ela não se importou. As cadelinhas tinham sarna, contagiosa, só se podia mexer nelas com luvas. Eram pequeninas e eu tinha imensa pena delas. Como tinham nascido no mato tinham medo das pessoas. Eu passei a ir lá todos os dias. Ao princípio elas escondiam-se debaixo da cama mas com o tempo elas começaram a sair e a vir ter comigo. Não tive medo da sarna e fazia-lhes festinhas. Que alegria vê-las a abanar o rabinho em vez de andarem com ele entre as pernas com medo! E em muito pouco tempo elas ansiavam a minha chegada fazendo sempre uma festa!! A verdade é que eu nem sabia que a sarna era contagiosa, e por isso nunca usava luvas. Se calhar com as luvas elas iriam assustar-se mais. Elas foram para adopção e eu não tive sarna (felizmente). Agora a casa está abandonada, vai ser demolida para construírem um prédio... Mas todos os dias passo por ela e dá-me uma certa nostalgia de olhar as janelas e lembrar como fui feliz naquele quarto, naquela casa...

Luisinha

2 comentários:

teresa disse...

que linda historia aqui nos deixou lusinha , gostei mesmo muito de a ler ..
e o mais engraçado é que me revi um pouquinho nesta historia ..

beijinhos e deus te abençoe

Luisinha disse...

Obrigada Teresa!
Beijinhos!