sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Eu não morro; entro na vida!

Fui levar uma rosa branca à Ema. Ainda antes de entrar na igreja vi um dos irmãos dela tão triste, que não sabia que dizer e comecei a chorar... A situação inverteu-se, em vez de ser eu a trazer alguma palavra de consolo foi ele a consolar-me num abraço acolhedor: "Ela agora está bem! Está lá, sossegadinha...". Depois fui ter com outro dos irmãos que me abraçou e perguntou: "Ela era tua professora não era?", e eu respondi com um "Era..." entre lágrimas "Não fiques assim, agora ela já não sofre mais!".
Lá dentro cumprimentei algumas pessoas e a minha mãe disse à tia da Ema "Esta é a minha filha" e ela a olhar para mim com cara de quem já me conhece de longa data: "É a Luisinha não é?" e a minha mãe disse que sim enquanto a tia da Ema fazia um sorriso! Do que eu não estava nada à espera foi o que aconteceu depois, quando fui dar os meus sentimentos às irmãs dela (sem conseguir dizer palavra de tão entalada que estava...) elas abraçaram-se a mim a chorar.
Como não sou de ir a funerais nem ir ver mortos, não fazia ideia onde deixar a minha rosa. Quando a minha mãe disse que era para ir pôr ao lado dela os meus pensamentos congelaram... Ao lado dela? Não gostei muito da ideia porque não queria vê-la morta. Mas incrivelmente, quando me aproximei do caixão senti uma calma que me cortou as lágrimas, como se eu não precisasse delas para nada. Olhei com naturalidade para ela, não parecia morta e sim que estava a dormir... Pousei a rosa e enviei pensamentos de carinho.
Quando me apercebi, perto do caixão estava um professor, que também foi meu professor de história. Ele estava visivelmente triste... Esteve um bocadinho e foi embora (a chorar pelo que me pareceu). Depois apareceu o Rui, um rapaz que era da minha turma quando a Ema foi minha professora. O Rui era muito irrequieto, não se calava, um adolescente sempre à procura de tudo para fazer menos o que tinha de ser feito na aula! Quantas vezes eu me lembro de ouvir a Ema "Rui, está calado! Rui, está quieto! Rui presta atenção!" ela sempre teve muita paciência e ele estava lá de certo também com muitas saudades dela...
Por último vi uma rapariga que já conhecia há algum tempo mas não sabia quem ela era e vim a saber que somos da mesma família, ou seja, ela é sobrinha da Ema e a minha tia-avó é viúva do irmão da Ema!! Coisas da vida!
Rezei pela Ema, lembrei vários momentos desde quando eu era pequenina habituada à presença dela e as lágrimas vinham de vez em quando.
Admirei uma moça nova, devia ter uns 16 anos. Deitou água benta e foi dar-lhe um beijo! Depois uma senhora idosa também foi lá deu-lhe imensos beijos e desatou a chorar. Não me agradava nada estar ali, não fosse alguém descontrolar-se e eu detesto ver essas coisas, fico profundamente triste...
O meu irmão chamou-me perguntou se eu queria ir embora com ele e eu fui.
Quando vim embora uma das irmãs da Ema disse-me, "vai, vai Luisinha, isto não é lugar para os jovens...". A Mãe da Ema deu-me enormes sorrisos, talvez por se ter apercebido que eu não tinha palavras...
Depois disso estive com a minha tia-avó o filho dela e a mulher e o meu irmão do meio. Foi bom para descontrair. Ainda fomos à casa da minha tia-avó lanchar pão de forno a lenha juntamente com as histórias que o meu primo conta e que nos fazem sempre rir!
Mas durante os momentos em que estive lá na capela pensei: "como é que há culturas que celebram em festa e alegria a partida de pessoas queridas?!" Sei que é uma questão de cultura, de hábito, outros valores, mas faz-me imensa confusão...
O importante agora é que de facto ela está bem, está lá sossegadinha, como disse o seu irmão. E no seu santinho tem a imagem de Santa Teresinha do Menino Jesus a dizer uma frase que é mais verdadeira do que muitos pensam: "Eu não morro; entro na vida!"

Luisinha


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