quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Saudade

Querido Avô:
Hoje senti a tua falta...
7 anos de distância física mas espiritualmente sei que estás sempre comigo... como sempre estiveste na minha vida, sendo um segundo pai para mim!
Lembro-me das últimas palavras que trocamos no hospital quando só estávamos tu e eu. Disse-te para não teres medo, que todos temos um Anjo que nos acompanha e que iria correr tudo bem. que a vida não termina nunca, que existimos para além dela! Quis mostrar-te a certeza que eu tinha de que não irias para sempre embora. Tentaste dizer-me alguma coisa que eu não pude perceber, porque já não tinhas voz e não consegui ler nos teus lábios... Só consegui sentir o beijinho que me deste, com o amor de sempre...
Foi a última vez que estive contigo em vida. Fizeste tanta falta que ninguém conseguiu fazer quase nada. Eu tive que telefonar para toda a família e por pouco, teria eu de escolher a roupa com que irias no funeral. Não tenho muito jeito para essas coisas então a tia fez isso. Quando estavas na igreja, disseram que estavas desfigurado... Fui até lá, aproximei-me devagarinho... levantei a cabeça... mas não te vi! Sem querer estavam flores à minha frente. Achei que Deus queria que eu guardasse de ti as melhores imagens (que as tenho muitas) e não insisti. Fui embora. Mas eu estava numa paz inexplicável! Amparava as pessoas, e de certa forma não entendia muito bem porque todos tanto se lamentavam se tu não eras aquele corpo e sim uma alma que estava livre, feliz e connosco! Tive que tirar a minha mãe da igreja durante a missa porque não se estava a controlar. No cemitério não senti nenhuma perda, só uma dor de ver os outros a sofrer. Dormi com a avó nos primeiros dias para não se sentir tão sozinha, mas apercebi-me que ela só chorava sozinha a meio da noite na casa de banho... Só depois de algum tempo eu senti realmente a tua falta. Ainda sabia que eras alma viva e connosco mas estando sob a forma de alma é diferente... Não me podias tocar e beijar como antes, não te podia ouvir a cantarolar ou a contar histórias de quando conheceste a avó e do nervoso que estavas em ir falar com os pais dela para pedir em namoro, não me podias trazer mais uma guloseima do café à noite, não podia mais fazer-te um chá, uma série de coisas que não podíamos... foi então que entristeci e pela primeira vez chorei verdadeiramente a tua falta, sozinha.
Pode-se contar pelos dedos as vezes que fui ao cemitério "para te ver". Justamente porque acho que não estás lá e sim no meu coração! Mas... quando lá vou acabo sempre por ficar com lágrimas de saudade...
Certa vez sonhei contigo. Estavas à janela do teu quarto e eu fui ter contigo. Desviei a cortina devagarinho...
"Estás bem avô?"
"Sim..." (um "sim" daqueles de quem não está muito convencido...) e continuou.
"Sabes, tinhas razão naquilo que me disseste. Agora tenho muitas pessoas amigas que me estão a ensinar muitas coisas!"
Eu sorri satisfeita. Ele olhou para trás, viu a minha avó que se aproximava e foi ter com ela numa alegria enorme. Senti que não estava lá a fazer mais nada e vim embora. Foi quando acordei!
Tenho uma casinha de pombos em porcelana que foi ele que me comprou num dia em que eu estava a chorar por ter andado em conflitos com os meus irmãos e eu é que pagava com as culpas... Guardo essa casinha de pombos com muito carinho. Ele também adorava pássaros e tinha o King, um canário muito esperto!
Tantas e tantas coisas eu podia aqui contar do meu avô. Mas hoje tudo se resume a uma simples palavra:

SAUDADE!!

Luisinha


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