quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Miguel de Cervantes - Dom Quixote

Miguel de Servantes Saavedra (1547-1616)

"A arte de Cervantes foi produto dos seus sofrimentos. Se a sua vida não tivesse sido tão penosa, a história de Dom Quixote não teria sido tão sublime.
Miguel de Cervantes foi contemporâneo de Shakespeare.
Nasceu na cidade universitária de Alcalá de Henares.
O seu pai era um charlatão que viajava de cidade em cidade e que ganhava a vida sangrando e cortando os pobres diabos que se lhe ofereciam como pacientes. O pequeno Miguel, que acompanhava o pai nestas viagens, aprendeu muito pouco nos livros mas muito da vida. Embora nunca houvesse frequentado a Universidade, tornou-se um fidalgo versado no mundo do seu tempo. Bateu-se em duelo quando era ainda muito jovem. Pouco depois, viu-se envolvido num caso de amor um tanto desairoso com uma dama de honor.
Aos 23 anos, encontramo-lo em Roma, provavelmente exilado devido às suas imprudências juvenis. Trabalhou naquela cidade durante cerca de um ano e então a sua natureza irrequieta levou-o a alistar-se no Exército.
Lutou na batalha de Lepanto, onde esteve a pique de perder a mão esquerda, em consequência de um golpe de cimitarra. Devido a esta ferida, que lhe inutilizou a mão para toda a vida, recebeu a alcuha de "O aleijado de Lepanto".
Até ao fim da vida, mostrou-se mais orgulhoso da sua habilidade como soldado do que do seu génio extraordinário de escritor.
Acabada a guerra, ao voltar para a Pátria, Cervantes caiu em mãos de piratas mouros, que o venderam como escravo. Cinco anos se passaram antes que o resgatassem.
Depois de servir como soldado e como escravo, tentou a sorte como poeta. Conseguiu produzir alguns dos piores versos de toda a história da literatura espanhola. Sempre irrequieto, voltou-se para o drama. Escreveu 30 ou 40 peças. Os seus dramas, se eram alguma coisa, eram ainda piores do que a sua poesia.
Tentou por fim um romance pastoril. Foi o seu desastre mais completo. Infeliz na sua busca da fama, dispôs-se a procurar a felicidade. Casou-se com uma mulher 18 anos mais nova do que ele. Apesar da sua juventude, ela não foi capaz de satisfazer a errante fantasia de Cervantes. Um ano após o casamento, Cervantes tornou-se pai de uma criança nascida de outra mulher. Tentou manter as famílias (legais e ilegais). Aos 41 anos tornou-se agente comercial da Grande Armada, mas depois de derrotada Cervantes perdeu o emprego. Conseguiu o emprego de colector de impostos em Granada. Quer por desonestidade, quer por negligência, houve um sério desfalque e Cervantes foi preso. Quando foi libertado, voltou-se mais uma vez para a Literatura. Escrevia encomiásticas introduções metrificadas para quanto livro aparecia, sobre os mais diversos assuntos, desde poemas épicos até tratados de Obstetrícia. Essas introduções, em regra, não eram melhores do que os livros.
Aos 58 anos, idade em que a média dos homens atinge o seu termo, Cervantes está um velho desiludido, alquebrado e desgostoso por ter falhado em tudo quanto empreendeu, especialmente na Literatura. Ele mesmo descreve-se como "um homem de barba prateada, quando, menos de vinte anos atrás, ela era loira, grande bigode, boca pequena, e dentes sem importância" pois que tem "apenas 6 e estes em más condições e ainda pior dispostos, porque os dentes de cima não jogam com de baixo". Diz também que "a cor da sua pele atira mais para o branco do que para o moreno, tem ombros um tanto largos e não é muito ágil de pés".
Cervantes estivera a trabalhar no Dom Quixote durante muito tempo. Algumas partes do livro tinham sido escritas numa cela de prisão.
Tem-se a impressão de que Cervantes nunca corrigiu o seu trabalho e nunca o releu durante o desenrolar da inspiração.
Dom Quixote é uma farsa alegre sobre as loucuras da Humanidade.
Rimo-nos ao vermos a nossa própria loucura espelhada na de Dom Quixote e a nossa própria estupidez reflectida na de Sancho Pança. Em certos momentos, sentimo-nos mais intimamente ligados ao cavaleiro, cuja coragem é maior do que a prudência; outras vezes, sentimo-nos mais próximos do escudeiro, cuja prudência é maior do que a coragem. Todos nós somos uma combinação de Dom Quixote e Sancho Pança. Em certas ocasiões, sábios na nossa loucura, atacamos moinhos de vento, como Dom Quixote. E momentos há em que, tolos na nossa sabedoria, fazemos como o escudeiro "que hoje evita a luta para dormir, à noite, sobre a terra".
Foi em 1605 que Cervantes deu a lume este livro alegre, a primeira parte do Dom Quixote."

Livro: Vidas de Grandes Romancistas.
Henry Thomas e Dana Lee Thomas
Edição Livros do Brasil, Lda. Lisboa



1 comentário:

teresa disse...

olá luisinha , passo para te deixar um beijinho e desejar-te um ano 2010 cheio de saúde , amor e paz ..

beijinhos ..