Na Terça estive na praia. A mesma praia de há 15 anos atrás. A mesma praia onde eu costumava ir com o meu pai.
Entrei no mar, o mesmo mar de há 15 anos atrás. O mesmo mar onde o meu pai me levava até lá ao fundo, onde não tinhamos pé. A água tinha a mesma temperatura, parecia ter as mesmas ondas, o tempo parecia ter voltado, e ele parecia estar ao meu lado.
Cantei umas músicas que ouviamos naquele tempo e comecei a chorar... Preferi mergulhar. As lágrimas misturaram-se com a água do mar. Os sentimentos foram envolvidos pelas ondas e as lembranças voltaram...
"Queres vir comigo?" sorri e embrenhei-me no mar com ele.
"Pai segura na prancha!" era uma prancha de esferovite, ele segurou, eu pus-me de pé. Cheia de coragem saltei mergulhando de cabeça.
"Pai, chego até lá ao fundo! Queres ver?" ele sorria e eu voltei a subir para a prancha. Saltei de cabeça... Voltei com algumas bolachas do mar, uns seres redondos, achatados, parentes da estrela do mar. Eles vivem debaixo da areia e ao desviá-la pude encontrar algumas. Pus várias em cima da prancha.
"Vamos ver quem atira mais longe?" e fizemos das bolachas do mar uns discos e a ver quem atirava mais longe lá para o fundo!
"Ah, a minha foi mais longe!"
"Não foi não, olha a minha até onde vai..." e atira com força.
"Oh, mas tu tens mais força!" eu desiludida e ele a rir... eheheheh...
Ontem encontrei com um amigo do meu irmão, eu também brincava muito com ele. Estivemos toda a tarde juntos. Passamos na casa onde morei há 15 anos, já era noite. Estava tão diferente!! Comecei a chorar... O meu amigo abraçou-me e disse "não chora se não eu também choro pensando no meu pai (faleceu há 1 ano). Olha como está grande o abacateiro que seu pai plantou!"
"é..." era uma árvore realmente enorme, não pensei que crescesse tanto ou sequer que existia!!
"o seu pai gostava de ficar lá atrás não era?"
"era..." nas traseiras havia um quintal com tudo: tomate, alface, mamão, morango, maracujá, salsa, etc... O meu pai passava o tempo lá e todo o jardim morreu depois que ele morreu, mesmo ele tendo me explicado como cuidava e eu tentava fazer igual... Só o abacateiro ficou!
"É bom sentir saudades" disse ele.
"sim. Nós vivemos tantas coisas boas aqui..."
"mas você não gostava de Portugal?"
"gostava, mas aqui vivi outras coisas, estava mais próxima dos meus pais, tinha mais amigos..."
A tristeza não é bem tristeza, é também alegria de tudo rever e sentir...
Luisinha
Sem comentários:
Enviar um comentário